Wednesday, December 03, 2008

Envelhecer

Creio que não é possível crescer além da consciência.
Creio que não é possível envelhecer além da consciência.
Por isso posso imaginar já o que é ter uma grande idade.

Tuesday, September 23, 2008

Ideias por encaixe

Ela, fazia-me esperar,
Como se a eternidade
Não existisse.

E eu, que ninguém mais via,
Era feliz,
E nem o sabia.

Friday, August 15, 2008

Tchélasz


As saudades que eu já tinha da minha alegre casinha tão modesta quanto eu...

Tuesday, August 05, 2008

O Vácuo

9 da manhã, ou 10. O alcóol corre no sangue. O que sai de divagaćões com o Sol a bater na cara?

"O Vácuo

Deixou a casa para trás. Aquela rua cansava-o também. Por isso esperou mais um pouco até atravessá-la para poder pensar no caminho a seguir. Tinha aquela manhã toda para desfrutar, mas embora do céu pudesse contemplar o céu, para que nesse mesmo se espelhava a verdade de que por mais que ele andasse nesta pequena terra, nunca poderia ultrapassar, ou evacuar-se, daquele sentimento de menoridade.

A solução, encontrara-la, já, no trabalho. Através de um conjunto de contas matemáticas dele com outros seres humanos da sua espécie, conseguia vender umas horas do seu dia em que se mantinha activo em troco dum salário que lhe permitia viver esta vida, mas de uma maneira menos custosa. Nomeadamente através de regalias como almoços e jantares múltiplos, o copo de cerveja quando bem lhe apetecesse, um livro ou outro aqui, o CD da sua banda preferida, se o achasse, e até uma prendita para a namorada1, e para os irmãos e demais familiares também.

Ele conseguia ver duma certa forma que esta vida era melhor do que a que tera faz anos poucos vindos, no entanto, de vez em quando um abismo do qual nunca saíra senão por instantes, fazia-o pensar que a chance de tudo se perder era sempre perigosa, e presente, demais. Nomeadamente (recorre-se outra vez a este advérbio) porque o seu espírito de poeta, que também já estivera mais separado dele, sempre tivera aquela propensão para o desvio, ou para o vácuo, ou para algum lado fora desse negro que habitava dentro de si próprio.

Era Domingo, um dia santo, e um dia de prezar, porque no meio de todo o compromisso poderia ao menos estar só, sem compromissos, e desfrutar do tempo todo como bem entendesse. Não que acabasse por fazê-lo da maior parte das vezes, já que as noites tontas dos sábados às noites eram transformadas num remorso do qual a própria mente e a visão fugiam, durante o sétimo dia completo, e se ocultavam numa nova noite (em contraste com o dia que até podia ser belo lá fora) e que se formava dentro dos seus sonhos (se é que ainda se pode usar este termo, sob pena de estarmos já a disfarçar o que não é sonhos, de sonhos. De qualquer maneira, pesadelos também não seriam obrigatoriamente. Mas talvez a vida lá fora, depois de tanta tontura, acabasse ela por se revelar um pesadelo. E nesse caso, a melhor saída, acabava por ser mesmo, fechar os olhos, e esperar retomar o ritmo diário, onde supostamente alguma coisa de produtivo, ou de não-mau, seria feita). De qualquer maneira, adormecia e criava essa nova noite, onde buscava sonhos, durante o dia, e quando acordava, as mais das vezes, acabava por ser já mesmo de noite.

O problema maior que teria, peut-être, seria então mesmo, o não saber o que fazer com esses tempos livres, essa liberdade, essa realidade, da qual poderia ser dono, ou então escravo. A escolha simples. Dono... ou escravo. Dono. Sim. Escravo. Não. Obviamente. Uma escolha que parecia tão simples, como respirar, era desaguada, no fundo, não muito dificilmente por escolhas que não hesitava em tomar, constantemente, como se o grito do abismo (como se fosse a morte) o atraísse irremediavelmente. Como uma vingança que tinha programada contra si próprio por não ter nunca atingido a felicidade nos momentos em que a desejara. Ou para pagar a culpa de não ser o homem que sempre quisera ser. Algo desse jeito. Algo assim. Algo ao mesmo tempo indescritível, mas também somente até ao ponto em que desejasse ser descrito. Talvez incompreensível, apenas, na idade da intuição, mas que a idade do sonho (ou do não-pecado e não-arrependimento) pudesse fazer chegar ao entendimento.

Continuou o passeio. Puxou dum cigarro e esqueceu-se por um momento das profundezas que ao mesmo tempo revelavam dúvidas mais seguras e certezas mais suaves, permutando com uma leve dor de cabeça que teimava em atacar-lhe de quando em vez. Talvez fosse e era mesmo o peso dos anos perdidos. Percebera já que os tempos de camaradagem eterna com os diversos seres que habitavam o mesmo planeta que ele o poderiam levar a todo o tipo de experiências, mas nos confins da percepção, não coincidiam realmente com aquilo a que se pode sempre chamar de paz ou de tranquilidade, ou mesmo de moralidade.

Na idade em que vivia, o mais importante resumia-se afinal ao profissionalismo. E o cigarro que fumava fazia-lhe sempre recordar inconscientemente tudo o que queria esquecer, queria apagar. Queria de algum modo olvidar todas aquelas noites perdidas a fazer nada, e que no meio desse fazer nada um mundo louco à sua volta o tinha tentado convencer de que havia milhares de caminhos por onde achar a felicidade, fracos oásis que quando o Sol nascera já se tinham desvanecido numa raiva cega que alimentava também sem sequer saber. Tudo já se tornara automático nesse seu mundo, sem ele sequer se recordar de quando é que realmente a vida fora algum dia diferente.

Assaltavam-lhe outros sentimentos de quando em vez. Ora a tentativa de gastar todas as suas energias, envidar todos os seus esforços, usurpar de todos os seus recursos, para fazer outras pessoas felizes, ajudar outras causas. Tudo escapadelas fáceis para quem não queria enfrentar afinal a questão mais difícil e que era simples. “- E tu? Que queres fazer de ti? Quando te ajudarás a ti próprio?” Realmente, quando os outros querem ajuda, normalmente a necessidade deles salta-nos à vista, para nos apercebermos do seu pedido de auxílio, de socorro. É fácil. É só aquiescer. Aceitar ajudar. Fazer. Sentir uma falsa felicidade, convencido de que o nosso papel no mundo estará mais completo, mais pontos, mais créditos para entrar no paraíso. Ao invés, evitando olhar para dentro, evitando entrar num labirinto criado por nós, evitando enfrentar a realidade, as nossas fraquezas, as nossas culpas, esquecemos para quase sempre este coração que nos habita. “-Zé, e a tua causa? Ficará para quando? Para quando morreres?” Simples pergunta. Resposta aterrorizadora. Uma resposta que implica desfazer tantos males, substituí-los por tantos bens, que só mesmo Deus na sua imensa paciência e na sua imensa disponibilidade poderia de algum modo ajudar. Deus, com o Sol e todas as coisas.

A brincadeira é fácil. Quando a parada aumenta, aí é mais fácil olhar para o lado, perder, esquecer, não querer saber. E ainda mais fácil é arranjar desculpas.

Segui manhã afora.

1Namorado afér. de enamorado adj., requestado, galanteado; enamorado, apaixonado; meigo, amoroso;
s. m., aquele que é requestado ou que requesta; amante; conversado. Namorar afér. de enamorar v. tr., galantear, requestar; cativar; procurar inspirar amor a; pretender o amor de; andar de namoro com; fig., atrair, seduzir; desejar muito, cobiçar; olhar com enlevo; v. int., inspirar amor a; ter namoro; afeiçoar-se; agradar-se (de alguma coisa); apaixonar-se. in Dicionário Priberam On-line
Isto para dar mais significância ao sentido de requestar, pretender o amor de, do que menos propriamente ao sentido de dono e senhor duma relação de namoro, recíproca, e que parece que hoje em dia é comummente o único sentido que se recorda para a palavra"

Thursday, May 15, 2008

Com escrúpulos

Há pouco li uma boa definição sobre que é o bem ou o mal.

Numa entrevista, uma rapariga afegã interrogava-se sobre a viabilidade ou a correcção, sobre a aceitação perante a sua religião, de determinada conduta e depois concluiu:

Se não for capaz de contar aos meus pais, então é uma conduta reprovável.

Nem mais. Excelente definição e que vai mais além do que qualquer filosofia ou filósofo.

Monday, March 10, 2008

Sunday, March 02, 2008

Paraphrases

As palavras criam raízes. Os gestos colhem frutos.

As leis só existirão enqaunto alguém as compreender.

Nous ne sommes pas que la intuition qu'un homme plus jeune que nous a eu dans nôtre dérriere existence. Et qu'est-ce que reste aprés le moment de mourire? Pas vitéssement, nous nous rencontrerons avec nôtre passé, et aussi , pourquoi non, avec nôtre anima gemini, et aussi avec nôtres ennemi(e)s.

O meu esquecimento acaba em ti.
A minha compreensão comeća em ti.
O meu sofrimento acaba em ti.

Friday, February 22, 2008